Benditos supérfluos
Ricardo Gondim, Espana
lunes, 24 de marzo de 2008
Tempo não é dinheiro. A vida não pode consistir apenas de coisas essenciais. Para existirmos, é preciso também aprender a valorizar algumas extravagâncias, geralmente consideradas desnecessárias. A cultura ocidental está se tornando mais triste e mais maluca porque vive debaixo do imperativo da eficiência. Hoje, qualquer atividade não produtiva é logo descartada em nome da excelência máxima.
Ninguém quer perder tempo. Porém, mesmo quando os avanços tecnológicos prometem um a vida mais fácil, com o passar do tempo, todo mundo parece com a cara mais cansada; padecendo de estresse.
Essa exaustão latente adoece. As pessoas se deprimem e ansiosas, correm, correm, sem saberem ao certo aonde querem chegar; ávidos por não 'perderem tempo' mulheres e homens vivem preocupados em listar suas prioridade para alcançarem um suposto grau de eficácia. Assim, poetas, músicos, pintores, pensadores e místicos ficam relegados às margens da sociedade, como vagabundos improdutivos.
A vida não deve concentrar-se em operosidade; não se pode comparar os seres humanos a abelhas. O ócio, o lazer, a descontração fazem parte igualmente do viver e não são meros intervalos de descanso que só preparam a próxima tarefa.
Os supérfluos, maravilhosos, devem ser apreciados como um fim em si mesmos; e são muitos:Escutar o canto da cigarra no verão; dar de presente um perfume caríssimo a quem a gente ama; preparar uma linda festa no casamento; dormir à tarde no feriado; ler histórias de fadas para o filho na hora de dormir; ir a pé comprar pão na padaria; pescar numa beira de rio; sentar à tardinha para ver o pôr-do-sol; ouvir música instrumental sem letra para deixar a imaginação voar; dormir cedo; estudar ornitologia; ler biografias; aprender outro idioma; matricular-se num curso que ensina a escrever poemas; soltar pipa; ler um capítulo do livro de Provérbios por dia, sincronizando com o calendário; deixar tudo o que tem para se feito, navegar até o outro lado do lago e descansar; transformar seis grandes potes d`água em vinho; visitar um asilo de idosos só para conversar com eles; ler romances; praticar algum esporte; gastar várias horas tagarelando numa refeição; montar quebra cabeça com os netos; aprender a jogar xadrez; contar anedotas com amigos; assistir uma cantata infantil; ouvir as histórias de um pastor velhinho; caminhar no parque; lembrar de músicas antiqüíssimas ao lado de amigos, numa noite enluarada; visitar museus; escalar alguma montanha só para ver a paisagem; pedalar bicicleta junto com os netos; ensinar uma criança a assobiar; fazer cafuné; meditar; comprar terno novo para uma data especial; presentear flores; escrever um cartão para um amigo num dia sem importância; tomar café; comprar um songbook do Chico Buarque; ler romance; assistir filme de amor; estudar música clássica para aprender a gostar de Bach; ajudar a avó a cuidar do jardim.
Graças a Deus por Davi, Picasso, Rembrandt, Machado de Assis, Clarice Lispector, Tom Jobim e tantos outros que 'perderam tempo' com supérfluos; por isso nossa vida não se tornou tão árida (...)
Soneto 1 - A três Homens.
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Soneto: A TRÊS HOMENS.
São três homens morenos
Que correm nas ruas
Debaixo da lua
Que ilumina o teto dos casebres.
Que correm na noite
Com o coração de met...
Há 15 anos
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