Entende-se por dieta a ingestão rotineira de alimentos e bebidas, realizada por qualquer pessoa diariamente e nutrição a assimilação dos alimentos e seu efeito sobre os processos metabólicos do organismo. Estudos recentes confirmam que a má nutrição calórico-protéica crônica e aguda durante a infância aumenta a suscetibilidade à cárie dentária. Os nutrientes dividem-se em três grupos principais caracterizados por sua função : energéticos, lipídeos e carboidratos. Os lipídeos contribuem para a proteção dos órgãos vitais contra a ação mecânica e contra a perda de calor. As gorduras podem diminuir a atividade de cárie pela modificação da superfície do esmalte, formando uma película protetora, limitando o acúmulo de placa bacteriana ou se interpondo entre as superfícies dos dentes e os ácidos da placa bacteriana. Os óleos vegetais insaturados são as principais fontes de lipídeos. Os carboidratos servem como fonte de energia para as funções químicas do organismo e também para a síntese de vários aminoácidos e ácidos graxos. Eles incluem principalmente os amidos e açúcares. O papel primordial dos açúcares na cárie dentária é a sua capacidade de ser excelente fonte de fermentação para determinados microrganismos encontrados na saliva e na placa bacteriana. Segundo FONSECA; GUEDES-PINTO (1995), a produção de ácido lático através do metabolismo glicolítico dos açúcares é responsável pela iniciação do processo carioso. Os carboidratos, principalmente a sacarose, são o substrato mais importante para o metabolismo da microbiota bucal. As principais fontes de carboidratos são o pão, macarrão, batata, biscoitos, lactose proveniente do leite e frutose das frutas. Os principais açúcares da dieta são: - sacarose, predominante na dieta, presente nos bolos, balas, frutas secas, ketchup e refrigerantes; - glicose e frutose encontradas naturalmente no mel e nas frutas; - lactose presente no leite; e - maltose derivada da hidrólise do amido. O mel contém 85% de açúcares, como a frutose e glicose. Por sua cariogenicidade, não deve-se utilizá-lo para "molhar" as chupetas. A lactose é o açúcar que produz menor queda de pH da placa bacteriana, quando comparada aos outros tipos de açúcar. A sacarose favorece a colonização de microrganismos bucais e aumenta a viscosidade da placa bacteriana, permitindo sua aderência aos dentes em quantidades maiores. Portanto, seu potencial cariogênico é maior que os outros açúcares. Os alimentos que contêm amido, tais como arroz, batata e pão, têm baixo potencial cariogênico. Porém, estes alimentos, quando cozidos e ingeridos com grande freqüência, podem causar cáries dentárias. A adição de açúcar a estes alimentos aumenta a sua cariogenicidade, ficando semelhante à dos alimentos que contêm apenas sacarose. O potencial cariogênico da lactose está relacionado ao aumento da resposta acidogênica da placa bacteriana. Tal fato justifica as lesões de cárie associadas ao aleitamento materno prolongado, em crianças com mais de 3 anos de idade, com livre oferta do leite, principalmente durante a noite. O uso da mamadeira está em geral associado a um padrão cultural, contribuindo para o desenvolvimento da atividade de cárie. A combinação do amido com a sacarose e o grande número de ingestões diárias expõem a criança ao maior desafio. A cariogenicidade dos alimentos está também relacionada ao tempo de permanência na cavidade bucal e suas características físicas de consistência e adesividade. A "cárie de mamadeira" caracterizada pelo desenvolvimento rápido é geralmente observada em crianças que possuem o hábito de adormecer com a mamadeira na cavidade bucal, muitas vezes durante toda a noite. O fato da criança adormecer mamando é mais significativo que o conteúdo da mamadeira, na determinação da atividade cariogênica. Durante o sono os alimentos permanecem por mais tempo na cavidade bucal, devido à redução da velocidade do fluxo salivar, dos movimentos da língua e sua função na autolimpeza. FATORES DEFENSIVOS Alguns alimentos são capazes de elevar o pH da placa bacteriana, neutralizando a ação acidogênica de alguns alimentos. São comumente chamados alimentos protetores, tais como castanhas e nozes, amendoim, pipoca salgada e queijo. A mastigação do queijo pode reduzir o número de bactérias cariogênicas. Tanto a caseína quanto as proteínas do queijo podem estimular o fluxo salivar e auxiliar na redução da desmineralização do esmalte. O alto conteúdo de fósforo e cálcio pode ser outro fator do mecanismo cariostático do queijo. Os alimentos duros e fibrosos também possuem efeito protetor aos dentes por estimular a secreção salivar. O leite possui alguns fatores de proteção, tal como a caseína. Esta une-se fortemente à hidroxiapatita, reduzindo sua solubilidade e dificultando a adesão de Streptococcus mutans à superfície do esmalte, através da inibição da adsorção de glicosiltransferase à superfície da hidroxiapatita. A caseína incorporada à placa bacteriana pode agir como reservatório de fosfato de cálcio, além de possuir efeito tampão sobre o pH da placa bacteriana. Para MEDEIROS; SPYRIDES; FERREIRA (1995) os adoçantes, como um todo, são muito úteis na substituição dos açúcares e devem ser recomendados para a população em geral. Entretanto, existem dificuldades na utilização desses substitutos devido: 1 - ao sabor da sacarose; 2 - ao tempo de armazenagem, que é menor; 3 - à textura dos alimentos que se torna diferente; 4 - aos efeitos adversos desses adoçantes; e 5 - ao seu custo elevado. A dieta assume maior importância diretamente sobre a cárie do que a nutrição, que teria papel coadjuvante ou secundário. Ela apresenta efeitos pré e pós-eruptivos (LEBER; CORREA, 1998). Os fatores pré-eruptivos estão mais relacionados com a nutrição. São nutrientes que tanto a falta como o excesso podem causar problemas, como obesidade, doenças cardíacas, constipação, deficiências vitamínicas e de minerais; como também causar alterações durante a odontogênese. Daí a importância de se manter uma dieta adequada em crianças e grávidas. Exemplos:. A redução do ácido ascórbico na dieta causa diminuição na altura dos odontoblastos e a conseqüente má-formação dentinária (dentina porosa = cárie). A deficiência de vitamina A durante o desenvolvimento provoca atrofia dos ameloblastos, ou alteração na diferenciação dos ameloblastos; hipoplasia do esmalte e cálculos pulpares, fatores esses que podem levar a uma extensa cárie dentária. A deficiência protéica que leva a um aumento de suscetibilidade à cárie. Os fatores pós-eruptivos estão mais relacionados à dieta. São fatores de ataque (principalmente açúcar e amido) e outros componentes da dieta que podem ou não aumentar localmente a produção de cárie. Temos os carboidratos, amido, minerais, fosfatos e a saliva. A saliva é provavelmente o agente defensivo mais importante contra a cárie. Influencia diretamente a troca iônica com a estrutura dentária, onde há presença de fosfato de cálcio e o processo de desmineralização. Indiretamente, ela influencia na aderência bacteriana e na manutenção do pH pela sua capacidade tampão. A velocidade do fluxo, a composição e a função da saliva são alteradas por uma variedade de fatores dietéticos. As únicas relações epidemiológicas bem definidas entre nutrientes da dieta e cárie são o açúcar e o flúor. É difícil mudar hábitos alimentares, especialmente se esta mudança requerer a eliminação de alimentos de sabor agradável, e facilmente disponíveis. A prevenção da cárie dentaria tem sido uma das principais preocupações da odontologia nos últimos anos, e tem se lançado mão de muitos meios para tentar diminuir sua incidência. Assim, muito se tem feito à nível governamental, em comunidades ligadas às crianças, nos consultórios de atendimento público ou na clínica particular. Da mesma forma, tem se utilizado de várias maneiras para atingir este objetivo, e entre elas pode-se citar a fluoretação das águas de abastecimento, fluoretação domicilar, aplicações tópicas de soluções fluoretadas, bochechos com flúor e escovação dental. Sabe-se que é praticamente impossível um aconselhamento sobre os hábitos alimentares, para todos os clientes no dia-a-dia do consultório. Mas, existem pacientes, em que é prioritária uma orientação alimentar. Segundo NIZEL (1980) seria indicado o procedimento orientador nas seguintes condições: • pacientes com cárie rampante que: - tenham índice de cárie excessivo para sua idade. - tenham sido atacados por um surto agudo de cáries em um período relativamente curto (cerca de 6 meses). - começam a apresentar cáries em superfícies geralmente imunes, por exemplo, as faces proximais dos incisivos inferiores. - demonstram ter, no fundo das cavidades cariosas, dentina amolecida indicativa de um processo muito rápido. • as crianças portadoras de aparelhos ortodônticos. • todos os adolescentes que são, em geral, susceptíveis à cárie e doenças periodontais com hábito de se alimentar entre as refeições e com alimentos portadores de calorias vazias. • os pacientes bem motivados, isto é, aqueles que a odontologia preventiva tenha significado. Os pais devem ser orientados da importância de se ter uma amostragem real, em que não haja modificações ou introdução de novos hábitos alimentares. É necessário ressaltar que nesta primeira consulta não se fala aos pais da influência dos alimentos sobre os dentes. Isto, porque eles poderão omitir detalhes importantes na apresentação da dieta. Segundo FONSECA; GUEDES PINTO (1984) no que se refere aos carboidratos, são os mais prejudiciais de todos os agentes nutritivos, mas, isto não quer dizer que todos os carboidratos tenham o mesmo potencial cariogênico. Deve-se alertar aos pais sobre a freqüência do consumo dos açúcares e farináceos. As características físicas dos alimentos e sua consistência também deve ser levado em conta. Um alimento açucarado pegajoso é mais difícil de ser removido e vai ficar mais tempo em contato com a superfície do dente. Refrigerantes, bebidas gasosas contém ácidos carboxílicos, que devido ao pH ácido, alteram o esmalte e fazem-no provavelmente mais susceptível a um ataque cariogênico posterior. É importante esclarecer e orientar os pais sobre a importância da dieta equilibrada, rica em proteínas, gorduras, minerais, vitaminas, carboidratos não refinados. Na educação do núcleo familiar, é necessário fazer ver que: • É responsabilidade do núcleo familiar as mudanças dos hábitos alimentares, e não só do profissional. • As mudanças devem ser graduais e planejadas, deve-se ajudar a criança e seu núcleo familiar a entender o porquê da rejeição de certos alimentos. • As refeições principais e a merenda escolar devem ser planejadas. Uma dieta adequada é essencial durante o período de formação dos dentes a fim de assegurar o desenvolvimento normal das estruturas dentárias. Além disso, outro fator bem estabelecido é o de que as crianças e os adultos, ao seguirem a dieta básica recomendada, consumindo quantidades adequadas de proteínas, frutas frescas e vegetais perderão o apetite para comer entre as refeições. • Deve haver controle dos alimentos fora das refeições. Se a criança sentir necessidade de se alimentar entre as refeições principais que seja com frutas frescas, leite, queijo, e outros de preferência alimentos duros e consistentes que produzam auto-limpeza. Como exemplo, geralmente acredita-se que as crianças devem ingerir mais alimentos, à medida que se tornam mais ativas. De acordo com FONSECA; GUEDES-PINTO (1984), o índice de crescimento da criança e não a sua atividade é que determinará seu apetite. Quando há uma queda no índice de crescimento, o apetite também diminui. É freqüente a opinião geral de que com um litro de leite por dia - goste ou não - a criança estará alimentada seja qual for a sua idade. Tal volume de leite, durante o período de idade pré-escolar, pode interferir na ingestão de alimentos sólidos, pois, sendo o leite bastante volumoso, ele satisfaz e conseqüentemente, reduz o desejo de alimentos sólidos à base de proteínas. Contudo nenhuma criança normal morrerá de fome podendo dispor de comida, mesmo que não seja forçada a comer. Se for obrigada, acabará adquirindo aversão em se alimentar nas horas certas, e, então, criará o hábito de se satisfazer nos intervalos com balas, refrigerantes, biscoitos. • O profissional, através de estímulos positivos, deve motivar a criança e seu núcleo familiar a modificar a dieta. Durante o tratamento, novas listas de dieta devem ser requisitadas. Quanto ao lanche escolar, tem se notado que a grande maioria das crianças levam para escola o que há de mais condenável em termos de alimento e cárie. Quais os alimentos que deveriam ser vendidos nas escolas? De quem é a responsabilidade na seleção dos alimentos? Assim, parte desta responsabilidade depende dos pais, especialmente em crianças de menor idade, as quais tomam o lanche que os pais fornecem. Para as crianças maiores ou adolescentes, a conversa franca com o núcleo familiar, esclarece os malefícios do lanche, que na verdade, na maioria dos casos, são alimentos cariogênicos. É importante alertar os pais e as crianças sobre os alimentos que contenham adoçantes artificiais, corantes, estabilizantes e edulcorantes, que devem ser eliminados da merenda. |
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