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sábado, 23 de agosto de 2008

Texto: Amado filho

Amado filho


O DIA EM QUE ESTE VELHO NÃO FOR MAIS O MESMO, TENHA PACIÊNCIA E ME COMPREENDAS

Se quando conversares comigo, eu repetir as mesmas histórias, que sabes de sobra como terminam, não me interrompas e me escute. Quando eras pequeno, para que dormisses, tive que te contar milhares de vezes a mesma estória até que fechasses os olhinhos

Quando estivermos reunidos e sem querer fizer minhas necessidades, não fiques com vergonha. Compreendas que não tenho culpa disso, pois já não as posso controlar. Penses, quantas vezes, pacientemente, troquei tuas roupas para que estivesses sempre limpinho e cheiroso.

Não me reproves se eu não quiser tomar banho, sejas paciente comigo.

Lembra-te dos momentos que te persegui e os mil pretextos que inventava pra te convencer a tomar banho.

Quando me vires inútil e ignorante na frente de novas tecnologias que já não poderei entender, te suplico que me dê todo o tempo que seja necessário, e que não me machuques com um sorriso sarcástico
Se alguma vez eu não quiser comer, saibas insistir com carinho. Assim como fiz contigo. Também compreendas que com o tempo não terei dentes fortes, e nem agilidade para engolir.

E quando minhas pernas falharem por estar tão cansadas, e eu já não conseguir mais me equilibrar...

Com ternura, dá-me tua mão para me apoiar, como eu o fiz quando tu começastes a caminhar com tuas perninhas tão frágeis. E se algum dia me ouvires dizer que não quero mais viver, não te aborreças comigo. Algum dia entenderás que isto não tem a ver com

teu carinho ou com o quanto te amo.

Compreendas que é difícil ver a vida abandonando aos poucos o meu corpo, e que é duro admitir que já não tenho mais o vigor para correr ao teu lado, ou para tomá-lo em meus braços, como antes.

Sempre quis o melhor para ti e sempre me esforcei para que teu mundo fosse mais confortável, mais belo, mais florido.

E até quando me for, construirei para ti outra rota em outro tempo, mas estarei sempre contigo e zelando por ti.

Não te sintas triste ou impotente por me ver assim. Não me olhes com cara de dó. Dá-me apenas o teu coração, compreenda-me e me apoie como o fiz quando começastes a viver. Isso me dará forças e muita coragem.

Da mesma maneira que te acompanhei no início da tua jornada, te peço que me acompanhes para terminar a minha. Trata-me com amor e paciência, e eu te devolverei sorrisos e gratidão, com o imenso amor que sempre tive por ti.

Teu velho

A À memória e lembrança de todas as mães e de todos

Autor anônimo

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